sábado, janeiro 20, 2007

Amarra!


Seria tudo tão mais fácil… se pudéssemos voar por cima de um campo aberto. Soltar o cabelo, porque não tínhamos elástico. Viajar sem destino, sem dar contas a ninguém. Seria tudo tão mais fácil, se o sol brilhasse a toda a hora, para poder iluminar, todos os corações que se fecham na penumbra da noite, se encontrássemos um espelho, sempre que é necessário mostrar o que são a quem é, se fosse possível retirar do mundo toda a poeira que nele se instalou…
É na luta por um lugar ao sol, na tentativa de se conquistar algo, que devia ser de todos por direito, que nos encontramos nas entranhas de uma rima emparelhada! Quando olhamos para todos os lados, e só quando tentamos andar, é que vemos que temos o pé preso. É numa gruta na ilha de Ítaca, que verificamos que somos menores, que não temos por onde ir, que nos sentimos amarrados!
Não vale a pena tentar procurar uma saída, tentar encontrar uma chave para a tal porta que não existe, um mapa que nos mostre o x, uma bússola que nos indique o caminho, um sinal de fumo que nos mostre companhia. A resposta ao enigma está tão à mão de semear, que até parece comédia ver quem a procura.
Mas estamos cegos, estamos enclausurados numa bola transparente de vício e de horror. De encantamentos disfarçados de mentiras. De segredos desbocados, que somente nós não os queremos ver. E já é demasiado tarde para não sofrermos. Demasiado retardado este caminhar que há muito devia ter ficado pregado ao chão. Quisemos investir num conto de fadas? Pois bem, agora a Bela Adormecida despertou, e de princesa nada tem!
E é tão plástica esta amarra. Tão frágil e tão pesada. Tão irritante e frustrada! Ai se eu soubesse que seria tudo desta forma. Se eu antevisse que o relógio iria marcar meio-dia quando era meia-noite. Damos tantas voltas para tentar desfrutar de um pedaço de terra, para depois chegar um vapor de terra e roubar o que trabalhamos para ter.
Não vale a pena andarmos com rodeios, com complexidades. Podemos dizer a palavra simples com simplicidade, mas acabamos sempre por pintá-la de tantas maneiras. E para quê? Para nos magoarmos ainda mais?
O que falo aqui é de amor! Aquele que nos prende e baralha. Aquele que nos amarra a uma ínfima parte do universo. Que nos arrasta na cauda de um cometa. Que nos tortura sempre que tudo corre mal. Expresso o que é chegar ao final do dia, e vermos que a nossa luta foi em vão, pois o outro lado trata-nos com tal desprezo, que nos sentimos então, pequenos na ilha de Ítaca.
E é tudo tão verosímil que chega a fazer cócegas no cu de Zeus! É tudo tão subjectivo, que até a palavra tão se torna pequena, na ilha de Ítaca. E o tal Ulisses que não regressa do mar para nos salvar… Se eu pudesse voltar atrás, tantas decisões que não teria tomado, tantas jogadas que teria levado até ao fim. Mas agora já é tarde, e tenho de saber lidar com o que tenho e tentar ser feliz.
E eu que só queria dizer que é sufocante estar amarrado a alguém desta forma. Que quero quebrar as amarras e não consigo. Liberta-me! Deixa-me seguir a minha viagem. Se tiver de ser sozinho, que seja. Só não me trates como um boneco inanimado, sem vida e sentimentos. Sou mais do que isso. Sou aquele que em tão pouco tempo se esforçou para levar a um bom porto este barco. E se eu remava sozinho. Agora já não sei. Estás aí especado a olhar para mim, a veres-me espumar raiva dos poros, e não fazes nada.
E seria tudo tão mais fácil… Se mudasses esse teu mundo tão pequeno, tão mal construído, tão em falta de bons alicerces. Se desejasses mais, e trabalhasses em prole disso. Se não me dissesses que gostas de mim, e mostrasses o contrário. Seria tudo tão mais fácil! Agarrar o ar que respiras e fazer bolas de sabão. Fazer gelo da água que escorre do teu coração. Bater nessa tua cabeça dura só porque me apetecia. Seria tudo tão mais fácil… mas não é!
E a amarra contínua amarrada a mim, a ti, a nós!
Ajuda-me para parecer que o que faço não é em vão. Que o que quero não é descabido. Que afinal, há um sentido para tudo isto.
Desamarra-me!

terça-feira, janeiro 16, 2007

Entrada na Plataforma


A minha alma ficou sufocada onde o mar se perde, e o canto das ondas se enrosca com o bater das conchas!

Caí num descontentamento sem forma, composto de uma calma aparente, que de temarária nem a guerra lembrava. Era um ponto de fuga este. Uma estratégia elementar própria de quem tenta fugir às nuvens negras da vida.

Parti em busca desse horizonte longínquo, perdido algures no interior da floresta medonha, carregada de incrédulas miragens. Foi aí que a perdi. Que fiquei despido, vazio. Mas não seria tudo isto uma renovação? Uma comunicação entre Alfa e Ómega, em plena harmonia num qualquer cosmo? Parti na viagem...

Não sinto tristeza, mágoas ou angustias por ter sofrido esta alteração pessoal. Foi, e é hoje, pedaço do que sou! Foi neste deslumbramento humano, quando ainda nem bases possuía, que surgiu o que sou.

E agora? Deixa estar, não te preocupes, não tentes modificar. O molde foi feito e deitado fora. Sou feliz assim, em pleno com o que sou e quero. As minhas certezas, são demasiado absolutas para derrocarem. E é somente isto o útil de ser legível. Esta passagem interna, que tanta chama expeliu!...

quinta-feira, janeiro 11, 2007

* A Porta *

Abrem-te a porta. Estás inseguro? Em euforia? É este um lugar onde se misturam verdades, ou se inalam mentiras. Aqui tudo é permitido. Podemos criar uma personagem à nossa volta, podemos desabrochar o que prendemos no dia-a-dia. Libertam-se medos, criam-se ânsias por sermos brilhantes. Temos de beber cada momento, pois estar aqui não é uma repetição de sempre, como tal, há que ser encantador!
Podem aproveitar para estar aqui, e descontrair uns momentos. Estar com os amigos. Deixarem-se levar pelo som, e mover o corpo ao sabor de músicas frenéticas.
Seremos sempre provocados por plumas e lantejoulas. Por seres que gostam de ultrapassar os limites, e surpreender as crenças mais religiosas. Mas também, quem disse que não era possível? Este é o recanto dos que são colocados de parte, dos que se colocam à margem.
Quase todos, vivem para isto, para este momento, em que se libertam máscaras que ficam sós a chorar, por se sentirem usadas. A maioria da corte vive ofuscada de medos. De sentimentos de revolta. E quando decidem enfrentar a população em manada, esquecem-se que não é criando marchas, dias, que se vão impor e mostrar que não são diferentes. Pelo contrário, é simplesmente a demonstração de que são diferentes.
Mas a noite é rainha, e grupos de criações clandestinas seguem em romaria para estes guetos de declínio mental.
Pode parecer fatídico e falso, alguém que pertence, que frequenta, que está presente nestes locais, estar agora aqui, a enfrentar a sua própria colonização com palavras mordazes e ferozes. Indo contra o que quase todos vivem. Mas existe uma explicação. Não sou igual!
Movo-me pela vontade de ser eu próprio, e já lá vai o tempo em que usava uma máscara para tentar enganar alguém. Hoje sou o que sou, e não me importo. Pertenço a uma sociedade uniforme, e tento a cada dia que passa introzar-me nessa mesma. Não sou adepto de tentar chamar a atenção para o que sou, até porque tudo não passa de opções, e como tal, a ninguém diz respeito. Tento sim, vincular a minha personalidade, e deixar que os outros apreciem a minha construção de vivência.
Vou a estes locais, porque por agora, são os únicos, públicos, onde posso descomprimir o meu corpo em danças, e estar da forma que quero com a pessoa de quem gosto. Onde posso namorar enquanto me divirto e bebo um copo. Pois aqui não haverão julgamentos, apenas algumas críticas invejosas. E também porque acredito no respeito mútuo, sendo eu também praticante da mesma modalidade, portanto, há que não chocar susceptibilidades.
Em suma, brilhos que interagem com cabedal. Drogas que cheiram a base para o rosto. T-shirts que parecem vestidos. Neste local, a imaginação é a palavra de ordem. Mas a sinceridade vistosa também. Na sua grande maioria, vemos seres despidos de si mesmos, conhecemos a realidade que é tão fugidia no mundo lá fora. E não vale a pena sentirmos pena. Apenas temos de tentar ter calma. Deus fez o Mundo em seis dias, não somos nós que o vamos mudar num minuto. Não quando todos vivemos no sétimo dia. Em descanso!

quarta-feira, janeiro 10, 2007

Segredo!


Desonesto! A realidade é para ser transmitida, sendo assim, é necessário dizer que não fui sincero comigo, com os outros.
Enrolei-me numa teia de mentiras, que apenas por um golpe de sorte, não fui devorado pela aranha, sua criadora. E era tão fria esta teia, esta falsidade precária e bisonte.
Talvez fosse necessário este fingimento, talvez algo que tivesse de acontecer. Certezas não as há, pois essas tardam a chegar, e quando chegam, apenas nos servem de lição. Apenas sei que foi uma história com passado, e que é assustador relembrá-la. Maquiavélica. Suja. Vendida!
Ruas de uma vida, onde batia a portas desconhecidas, que me podiam trazer os mais perigosos perigos. Um corpo que se colocava numa montra de necessidades incompreendidas. Facilidade, era o que se proponha!
Não posso dizer que me orgulho do que fiz, até porque as razões que me levaram a tal, não eram necessariamente convencionais. Mas era fantástico sentir-me desejado, nem que fosse pelo facto de ser usado. O cérebro bloqueava com o perigo, e eu apenas queria, o que tantos têm a mais.
Olho para trás, e levanto-me para agradecer, não ter caído num buraco profundo, do qual não fosse capaz de sair.
Fui confundido com seres cujo os objectivos eram bem diferentes. Fui enaltecido por este espírito forte que me levava a lutar diariamente. E disseram-me tantas vezes para sair deste segredo. Os amigos, que sabiam, os outros que lá estavam comigo por momentos. Eu sabia que estava errado agir assim. Que não tinha necessidade de estar ali, a mentir, a oprimir, a denegrir-me. Mas já era tudo um vício. Forte, que me prendia a um pilar coberto de cobras.
E era mágico! Porquê? Tentem perceber, o quão é importante para todos nós sentirmo-nos desejados por alguém. Fiquem por aí. O desejo. Agora vão até um local onde todos os olhares são desejo. Onde todos nos querem. Onde se oferecem oportunidades de uma vida. Onde se falam de sonhos, e se propõe a realizá-los. Era esta a magia que eu encontrava ali, tão à mão de semear.
Bem sei, que a maior parte desta vivência, foi toda uma mentira, recheada de falsas promessas, de fortes enganos, de personalidades movidas por desejos meramente carnais. Mas sabia bem ser enganado docemente. Era como se nos passassem uma pequena camada de seda, numa pele de cacto.
Sentia-me um objecto, um peão num tabuleiro onde não era eu que comandava cada jogada, mas era tão aliciante cada jogada, sempre nova e alternativa. Tudo podia mudar num segundo, ou não. Podia até entrar no jogo e nunca jogar, mas só a entrada valia a sensação. Não sei se voltarei a encontrar as sensações que desfrutei, ali, mas também não lhes sinto a falta, são hoje uma experiência, sem orgulho. São hoje uma aprendizagem, que fazem parte de mim, e que estão vincadas no meu passado, e que são hoje parte de mim, do que sou.
E é tão místico, o facto de não se perceber que pessoas comuns como nós, não possam esconder estes segredos. É inimaginável, que alguém com o futuro no seu caminho, longo, possa tomar tais atitudes, tais deslizes psicológicos. Não quando se tem capacidades para dar muito mais, quando se tem capacidades para lutar, para dar a volta de uma outra forma, quando até se pode ser muito mais do que alguma vez alguém ambicionou ser.
Isto não é a marcação de um desgosto, de uma revolta, de um ódio, mas sim a delineação de que este parágrafo foi importante para me encontrar. E deve este, por agora, continuar como é, segredo de mim, deste retalho. É cedo para se descobrir que afinal não sou tão puro como se possa pensar. Que tenho recantos de mim onde a lixívia passou e não conseguiu penetrar, que afinal sou igual a tantos julgamentos que se fazem. Mas no fundo, tudo passou, e hoje sou a soma dessa passagem, com tantas outras.
Segredo obscuro! Esta vida está recheada deles, e eu sou apenas mais um que os possui. Era importante passar por aqui.
Segredo vertiginoso! É preciso gostar de aventuras, este foi o meu sentido de aventura. Colocar a vida em perigo.
Segredo!




"Não contes do meu


vestido


que tiro pela cabeça
nem que corro os


cortinados


para uma sombra mais espessa.




Deixa que feche


o anel


em redor do teu pescoço


com as minhas longas


pernas


e a sombra do meu poço.




Não contes do meu


novelo


nem da roca de fiar
nem o que faço


com eles


a fim de te ouvir gritar"
Maria Teresa Horta

terça-feira, janeiro 09, 2007

Esplanada do Chiado


Esplanada do chiado! Sentimento que aflora a pele, que me acaricia, me aperta e sorri. Aconteceu o despertar, a superioridade do sentido feroz de quem se tinha perdido algures, onde termina o arco-íris.
Poucas árvores, vegetação quase ausente. Uma escada exterior que me dá a sensação de elevação espiritual, para um infinito desconhecido. Guia-me através do invisível, para um alento surreal, e quem sabe até, inexistente... Sei que estavam, reais, um toque! Para onde? Descobrir incapaz fui....
As pessoas passam e trocam olhares, num sussurro inaudível, embora perceptível pelos pássaros, que nos divertem com voos fugazes. Outras tantas, chegam e ficam. Onde desfrutam de uma pausa, acompanhados. quer de si mesmos, quer de seres que se foram acrescentando à própria existência.
A educação chega à mesa, quando a empregada nos serve o chá de caramelo e baunilha. O doce aroma perfuma o ar, que até então permanecia lisboeta. Inunda as narinas, criando festas ao estômago que festeja tal doce néctar. Aqui começa, um momento, outro tanto, que era nada mais que uma saudade.
Conversas. Desabafos. Histórias. Duas vidas. A abertura é alargada, e um ano, resumido em três horas. Impossível? Sem poder, não há querer.
Regressam os carros, as passagens. Monstrengo amarelo de fronte a um toldo que para cobrir, já não servia. Pessoas. Música ao fundo. Sussurros.
Tão junto do holocausto sonoro, de uma cidade que causa impacto, e tão surdo este rebuliço tipicamente popular. Calma maresia que ao chegar, nos transforma e amarra.
E eis que a noite se aproxima. O relógio marca hora aceitável. Mas ainda há tempo para mais. Ainda há tanto por dizer e contar. Por sonhar e divagar. A Felicidade! Ambos aqui. Felicidade! E misturam-se cores no horizonte, onde o céu nos serve de tela de mistura de aguarelas, de cores imaginárias. E misturam-se conhecimentos, aqui neste passeio público, onde poucos ficam, onde poucos julgam perder um tempo. E misturam-se línguas...
Regresso. Sorriso estampado nos lábios. Olhos brilhantes. Paixão!
Tão curto e tão puro. Amizade aqui esbatida, tão ferozmente confundida com um outro tipo de amor. Amamos sim. O que somos, o que se assemelha que seremos. O futuro é incerto. E afinal, há coincidências? Nós sabemos tão bem que não... Sonhos.
De volta ao passado, neste exacto momento. Quem diria?
Mudanças. E esta esplanada tão igual à de sempre, mudando apenas este elenco que pára e segue, por razões tão diversas, e que podem até ser iguais às nossas. Porquê parar aqui? Sossego. Ou apenas o forte motivo da tal companhia que não somos nós próprios? Descontrai. Relaxa e repensa. Valerá a pena tal correria por essa estrada fora, e não desfrutar destes pequenos prazeres? Vai à aventura. Arrisca, não tens nada a perder. Se fôr um risco, vem até aqui. Esplanada da vida onde corpos se acumulam numa memória de ninguém!

terça-feira, janeiro 02, 2007

Hey!





" Anda cá. Tens dois minutos? Ou fazem-te falta? Sabes o que faz realmente falta? Mais loucura. Mais malucos. Não os " grandes malucos " mas os verdadeiros e as verdadeiras. Aqueles que perdem tempo para falar com os pombos; que vêem quadros onde os outros só vêem paredes; os aventureiros e as aventureiras que acreditam, ainda, haver qualquer coisa no fim do arco-íris. O verdadeiro poder é tu decidires o mundo à tua volta; questionar o estabelecido, as certezas e os costumes, para acreditar que tudo pode ser diferente. É preciso mais absurdo, mais ideias insensatas. Cinco bailarinas a jogar à bola de tutu cor de rosa. Passeios cobertos com relva e flores. Ou, muito simplesmente, trepar a uma árvore quando te apetece. Tu é que mandas. Se gostas de música pirosa, gostas e pronto. Queres cantar alto no meio da rua, deixa-te ir. Se preferes não dar muito nas vistas, anda nas calmas. É preciso rirmos e dançarmos e darmos abraços e beijinhos. O importante é levarmos tudo mais a brincar; até as coisas sérias. "