sexta-feira, fevereiro 01, 2008

Adormeço em mim


Encosto a cabeça na almofada, o meu corpo estendido sobre o colchão. A única luz que me ilumina é a da lua, da noite que aguarda lá fora pelo sol, acompanhada das estrelas, essas imensas que representam cada história minha. A minha mente salta de dentro de mim, libertando-se num acto mágico e viaja pelos recantos de outras vidas. Desloco-me até um espaço que me pertence, até um tempo que guardo eternamente.
Imagino antes de adormecer, um mundo fotográfico que me aquece o coração e me mantém erguido! Fantasio histórias carregadas de personagens que se vão cruzando no meu caminho, colocando-lhes na mão um papel que infelizmente não representam.
Perco-me na imaginação, nas contas somadas na minha cabeça, nos totais que constantemente são positivos. Sorrio num mundo de sonhos despertos no meu leito, em carícias a um, em que abraço o meu próprio corpo com os braços de outra pessoa.
Relato descrições minuciosas, e chego a partilhar diálogos que se perdem nas horas… Esses ponteiros que vão caminhando no lado oposto do meu andar! Tento pregar rasteiras aos relógios para que parem, mas nunca consigo mais do que um segundo de felicidade. Por isso, aqui, em mim, neste paraíso encantado, em que apenas habita a minha existência e as milhares de pessoas que pretendo, posso parar o tempo, fazer com que o mundo não gire mais, com que as estrelas apenas iluminem a minha casa. Aqui sou eu quem possui o comando da vida!
E não pretendo escutar o que me magoa, o que me fere, o que me rasga a sobrevivência. Quero apenas inundar-me de momentos regados de paixão. Aqui digo basta a esta solidão! Deleito-me com um corpo que me ama, beijo uma boca que ferve paixão por mim, abraço partículas que me fazem desejar dali não mais sair! E em tudo isto, consigo retribuir o que me dão, tenho a oportunidade de não fingir.


Preciso tanto de sentir algo perto de mim. Largar as mãos á volta do mundo, e sentir que existe alguém que nelas segura. Continuo a adormecer... em mim, para não me magoar!

quinta-feira, janeiro 24, 2008

Estou aqui!


Porque é que a felicidade me despreza? Porque é que me afastam como se de lixo me tratasse? Não entendo estes porquês que me perseguem como se eu fosse um bandido, um qualquer ladrão que já tivesse a sentença marcada! Sinto que a pena de morte vem no meu alcance e que já nada posso fazer, estou na linha em seu alcance…
Tento conter as lágrimas que querem saltar dos meus olhos, mas em vão. A solidão alastra-me como um vírus que já não tem cura, e sinto-me ser possuído por esta doença que só piora de dia para dia. E ver que ao meu redor tudo se
acaba por encaixar, que parece ser mais fácil para os outros.
Odeio todos aqueles que apenas amam o belo, o que seduz o mundo, e que se esquecem que também existem pessoas de igual beleza interior. Estou aqui! Eu sei que posso não ser atraente, que posso não despertar os maiores desejos sexuais num primeiro olhar, que com toda a certeza não sou o mais belo ser à face desta terra. Mas bolas! Tenho tanto para dar! Sou tanto… Sou aquele que ama as pequenas peças que compõem este puzzle. Aquele que tanto trabalho teve para deixar cair uma máscara que tantos utilizam. Estou aqui! Sem esquemas, sem jogos, apenas com a certeza eterna de que possuo em mim, uma beleza interior capaz de derreter blocos de gelo.
Não quero que pensem que me sinto superior aos outros, até porque nunca é isso que penso acerca de mim. Queria apenas que se dessem ao trabalho de me dar uma oportunidade, um benefício da dúvida! Até porque o meu exterior permite que exista uma aproximação… Não sou nenhum bicho-do-mato! Vejam para além desta roupagem que me ilustra, olhem com olhos de gente e sentem-se comigo na esplanada da vida numa conversa amena. Podem descobrir tanto por me darem apenas quinze minutos da vossa atenção! Só pretendo apenas isso, um interesse sincero pela chama que temos cá dentro e não por esta fogueira exterior.
Também é certo que muitas vezes as vontades são diferentes, e pode acontecer eu querer algo tão intenso que assuste quem se aproximar. E em relação a isso, apenas digo que quero afastado de mim todas essas ligações momentâneas. Não quero acordar amanhã com a consciência de que vivi mais um momento passageiro, carnal, meramente sexual. Não entendem que quero construir algo?
Será que o nosso país, este mundo em que vivemos, carece de arquitectos? Eu bem os vejo a projectar casas e prédios, centros comerciais e estádios de futebol. Mas e que tal passarem a construir relações? Para isso não é preciso estudar. Não é necessário matarmos a nossa cabeça com geometrias. Basta querermos e trabalharmos em prole disso. Se esta atitude fosse levada em conta mais vezes, talvez víssemos mais cabanas à beira-mar… Cercadas de pegadas de felicidade!
E aqui contínuo no meu pranto, neste sufoco constante, que ora uns dias ataca, outros se afasta para me deixar respirar. O que é certo é que nada disto se resolve, que aquela altura em que tudo se resolverá nunca mais chega! “ Tem calma, um dia surpreendes-te, e quando não tiveres à espera encontras alguém!” Se soubessem o quão cansado estou de ouvir esta frase… Apetece-me rasgar a boca de quem tantas vezes me dá estes conselho! Não por maldade, porque sei que é dito com carinho e amizade, mas sim porque não existem momentos certos, porque não existem verdades absolutas em que a magia surge com pozinhos brilhantes. Então permaneço aqui, à espera que esse tal encanto chegue num recanto gélido que me parece eterno.
Estou aqui, pedaço de uma história que ninguém quer ouvir. Aqui me canso nos dias que passo a sofrer, em segredo, sem que ninguém perceba que afinal não sou tão forte como aparento ser. Aqui estou, escondido no meu quarto, local para onde não quero ir quando chega a noite, por saber que é aqui que me encontro comigo próprio e vejo no espelho o rosto da solidão! Estou… onde? Quando chega o sonho já não estou mais aqui, vou para longe, até onde a minha imaginação vence os limites, e aí, encontro os pequenos grãos que me fazem sorrir! Quero ficar ali, e não aqui…
Chega de me ignorarem, chega de fingirem que não estou aqui! Estou exausto de passar despercebido por entre os bafos de amor, de apenas ser reparado quando é para ser apontado por ser diferente! Sou gay, e então? Eu sou parte integrante desta sociedade, quer queiram quer não, e se querem que vos diga, muitas vezes sinto-me mais pedaço de gente do que muitos que por aí se passeiam na sua grandeza! Pena não ter esta força diariamente, e me lançar para o fundo do poço constantemente.
Podem dizer que sou incoerente, que possuo em mim a chave da felicidade, e que apenas eu posso sair deste estado deprimente. Mas não é simples, não é tão fácil falar como fazer. Posso sentir a fortaleza de uma muralha da china, posso durante o dia mostrar uma armadura indestrutível, mas basta olhar bem fundo nos meus olhos para ser perceptível o meu sofrimento. Cá dentro vive esta bomba de ar negro que não me deixa respirar, que me aperta o pescoço. Por dentro, toda a minha alma grita por algo tão escasso que só me faz chorar ainda mais!

sábado, janeiro 20, 2007

Amarra!


Seria tudo tão mais fácil… se pudéssemos voar por cima de um campo aberto. Soltar o cabelo, porque não tínhamos elástico. Viajar sem destino, sem dar contas a ninguém. Seria tudo tão mais fácil, se o sol brilhasse a toda a hora, para poder iluminar, todos os corações que se fecham na penumbra da noite, se encontrássemos um espelho, sempre que é necessário mostrar o que são a quem é, se fosse possível retirar do mundo toda a poeira que nele se instalou…
É na luta por um lugar ao sol, na tentativa de se conquistar algo, que devia ser de todos por direito, que nos encontramos nas entranhas de uma rima emparelhada! Quando olhamos para todos os lados, e só quando tentamos andar, é que vemos que temos o pé preso. É numa gruta na ilha de Ítaca, que verificamos que somos menores, que não temos por onde ir, que nos sentimos amarrados!
Não vale a pena tentar procurar uma saída, tentar encontrar uma chave para a tal porta que não existe, um mapa que nos mostre o x, uma bússola que nos indique o caminho, um sinal de fumo que nos mostre companhia. A resposta ao enigma está tão à mão de semear, que até parece comédia ver quem a procura.
Mas estamos cegos, estamos enclausurados numa bola transparente de vício e de horror. De encantamentos disfarçados de mentiras. De segredos desbocados, que somente nós não os queremos ver. E já é demasiado tarde para não sofrermos. Demasiado retardado este caminhar que há muito devia ter ficado pregado ao chão. Quisemos investir num conto de fadas? Pois bem, agora a Bela Adormecida despertou, e de princesa nada tem!
E é tão plástica esta amarra. Tão frágil e tão pesada. Tão irritante e frustrada! Ai se eu soubesse que seria tudo desta forma. Se eu antevisse que o relógio iria marcar meio-dia quando era meia-noite. Damos tantas voltas para tentar desfrutar de um pedaço de terra, para depois chegar um vapor de terra e roubar o que trabalhamos para ter.
Não vale a pena andarmos com rodeios, com complexidades. Podemos dizer a palavra simples com simplicidade, mas acabamos sempre por pintá-la de tantas maneiras. E para quê? Para nos magoarmos ainda mais?
O que falo aqui é de amor! Aquele que nos prende e baralha. Aquele que nos amarra a uma ínfima parte do universo. Que nos arrasta na cauda de um cometa. Que nos tortura sempre que tudo corre mal. Expresso o que é chegar ao final do dia, e vermos que a nossa luta foi em vão, pois o outro lado trata-nos com tal desprezo, que nos sentimos então, pequenos na ilha de Ítaca.
E é tudo tão verosímil que chega a fazer cócegas no cu de Zeus! É tudo tão subjectivo, que até a palavra tão se torna pequena, na ilha de Ítaca. E o tal Ulisses que não regressa do mar para nos salvar… Se eu pudesse voltar atrás, tantas decisões que não teria tomado, tantas jogadas que teria levado até ao fim. Mas agora já é tarde, e tenho de saber lidar com o que tenho e tentar ser feliz.
E eu que só queria dizer que é sufocante estar amarrado a alguém desta forma. Que quero quebrar as amarras e não consigo. Liberta-me! Deixa-me seguir a minha viagem. Se tiver de ser sozinho, que seja. Só não me trates como um boneco inanimado, sem vida e sentimentos. Sou mais do que isso. Sou aquele que em tão pouco tempo se esforçou para levar a um bom porto este barco. E se eu remava sozinho. Agora já não sei. Estás aí especado a olhar para mim, a veres-me espumar raiva dos poros, e não fazes nada.
E seria tudo tão mais fácil… Se mudasses esse teu mundo tão pequeno, tão mal construído, tão em falta de bons alicerces. Se desejasses mais, e trabalhasses em prole disso. Se não me dissesses que gostas de mim, e mostrasses o contrário. Seria tudo tão mais fácil! Agarrar o ar que respiras e fazer bolas de sabão. Fazer gelo da água que escorre do teu coração. Bater nessa tua cabeça dura só porque me apetecia. Seria tudo tão mais fácil… mas não é!
E a amarra contínua amarrada a mim, a ti, a nós!
Ajuda-me para parecer que o que faço não é em vão. Que o que quero não é descabido. Que afinal, há um sentido para tudo isto.
Desamarra-me!

terça-feira, janeiro 16, 2007

Entrada na Plataforma


A minha alma ficou sufocada onde o mar se perde, e o canto das ondas se enrosca com o bater das conchas!

Caí num descontentamento sem forma, composto de uma calma aparente, que de temarária nem a guerra lembrava. Era um ponto de fuga este. Uma estratégia elementar própria de quem tenta fugir às nuvens negras da vida.

Parti em busca desse horizonte longínquo, perdido algures no interior da floresta medonha, carregada de incrédulas miragens. Foi aí que a perdi. Que fiquei despido, vazio. Mas não seria tudo isto uma renovação? Uma comunicação entre Alfa e Ómega, em plena harmonia num qualquer cosmo? Parti na viagem...

Não sinto tristeza, mágoas ou angustias por ter sofrido esta alteração pessoal. Foi, e é hoje, pedaço do que sou! Foi neste deslumbramento humano, quando ainda nem bases possuía, que surgiu o que sou.

E agora? Deixa estar, não te preocupes, não tentes modificar. O molde foi feito e deitado fora. Sou feliz assim, em pleno com o que sou e quero. As minhas certezas, são demasiado absolutas para derrocarem. E é somente isto o útil de ser legível. Esta passagem interna, que tanta chama expeliu!...

quinta-feira, janeiro 11, 2007

* A Porta *

Abrem-te a porta. Estás inseguro? Em euforia? É este um lugar onde se misturam verdades, ou se inalam mentiras. Aqui tudo é permitido. Podemos criar uma personagem à nossa volta, podemos desabrochar o que prendemos no dia-a-dia. Libertam-se medos, criam-se ânsias por sermos brilhantes. Temos de beber cada momento, pois estar aqui não é uma repetição de sempre, como tal, há que ser encantador!
Podem aproveitar para estar aqui, e descontrair uns momentos. Estar com os amigos. Deixarem-se levar pelo som, e mover o corpo ao sabor de músicas frenéticas.
Seremos sempre provocados por plumas e lantejoulas. Por seres que gostam de ultrapassar os limites, e surpreender as crenças mais religiosas. Mas também, quem disse que não era possível? Este é o recanto dos que são colocados de parte, dos que se colocam à margem.
Quase todos, vivem para isto, para este momento, em que se libertam máscaras que ficam sós a chorar, por se sentirem usadas. A maioria da corte vive ofuscada de medos. De sentimentos de revolta. E quando decidem enfrentar a população em manada, esquecem-se que não é criando marchas, dias, que se vão impor e mostrar que não são diferentes. Pelo contrário, é simplesmente a demonstração de que são diferentes.
Mas a noite é rainha, e grupos de criações clandestinas seguem em romaria para estes guetos de declínio mental.
Pode parecer fatídico e falso, alguém que pertence, que frequenta, que está presente nestes locais, estar agora aqui, a enfrentar a sua própria colonização com palavras mordazes e ferozes. Indo contra o que quase todos vivem. Mas existe uma explicação. Não sou igual!
Movo-me pela vontade de ser eu próprio, e já lá vai o tempo em que usava uma máscara para tentar enganar alguém. Hoje sou o que sou, e não me importo. Pertenço a uma sociedade uniforme, e tento a cada dia que passa introzar-me nessa mesma. Não sou adepto de tentar chamar a atenção para o que sou, até porque tudo não passa de opções, e como tal, a ninguém diz respeito. Tento sim, vincular a minha personalidade, e deixar que os outros apreciem a minha construção de vivência.
Vou a estes locais, porque por agora, são os únicos, públicos, onde posso descomprimir o meu corpo em danças, e estar da forma que quero com a pessoa de quem gosto. Onde posso namorar enquanto me divirto e bebo um copo. Pois aqui não haverão julgamentos, apenas algumas críticas invejosas. E também porque acredito no respeito mútuo, sendo eu também praticante da mesma modalidade, portanto, há que não chocar susceptibilidades.
Em suma, brilhos que interagem com cabedal. Drogas que cheiram a base para o rosto. T-shirts que parecem vestidos. Neste local, a imaginação é a palavra de ordem. Mas a sinceridade vistosa também. Na sua grande maioria, vemos seres despidos de si mesmos, conhecemos a realidade que é tão fugidia no mundo lá fora. E não vale a pena sentirmos pena. Apenas temos de tentar ter calma. Deus fez o Mundo em seis dias, não somos nós que o vamos mudar num minuto. Não quando todos vivemos no sétimo dia. Em descanso!

quarta-feira, janeiro 10, 2007

Segredo!


Desonesto! A realidade é para ser transmitida, sendo assim, é necessário dizer que não fui sincero comigo, com os outros.
Enrolei-me numa teia de mentiras, que apenas por um golpe de sorte, não fui devorado pela aranha, sua criadora. E era tão fria esta teia, esta falsidade precária e bisonte.
Talvez fosse necessário este fingimento, talvez algo que tivesse de acontecer. Certezas não as há, pois essas tardam a chegar, e quando chegam, apenas nos servem de lição. Apenas sei que foi uma história com passado, e que é assustador relembrá-la. Maquiavélica. Suja. Vendida!
Ruas de uma vida, onde batia a portas desconhecidas, que me podiam trazer os mais perigosos perigos. Um corpo que se colocava numa montra de necessidades incompreendidas. Facilidade, era o que se proponha!
Não posso dizer que me orgulho do que fiz, até porque as razões que me levaram a tal, não eram necessariamente convencionais. Mas era fantástico sentir-me desejado, nem que fosse pelo facto de ser usado. O cérebro bloqueava com o perigo, e eu apenas queria, o que tantos têm a mais.
Olho para trás, e levanto-me para agradecer, não ter caído num buraco profundo, do qual não fosse capaz de sair.
Fui confundido com seres cujo os objectivos eram bem diferentes. Fui enaltecido por este espírito forte que me levava a lutar diariamente. E disseram-me tantas vezes para sair deste segredo. Os amigos, que sabiam, os outros que lá estavam comigo por momentos. Eu sabia que estava errado agir assim. Que não tinha necessidade de estar ali, a mentir, a oprimir, a denegrir-me. Mas já era tudo um vício. Forte, que me prendia a um pilar coberto de cobras.
E era mágico! Porquê? Tentem perceber, o quão é importante para todos nós sentirmo-nos desejados por alguém. Fiquem por aí. O desejo. Agora vão até um local onde todos os olhares são desejo. Onde todos nos querem. Onde se oferecem oportunidades de uma vida. Onde se falam de sonhos, e se propõe a realizá-los. Era esta a magia que eu encontrava ali, tão à mão de semear.
Bem sei, que a maior parte desta vivência, foi toda uma mentira, recheada de falsas promessas, de fortes enganos, de personalidades movidas por desejos meramente carnais. Mas sabia bem ser enganado docemente. Era como se nos passassem uma pequena camada de seda, numa pele de cacto.
Sentia-me um objecto, um peão num tabuleiro onde não era eu que comandava cada jogada, mas era tão aliciante cada jogada, sempre nova e alternativa. Tudo podia mudar num segundo, ou não. Podia até entrar no jogo e nunca jogar, mas só a entrada valia a sensação. Não sei se voltarei a encontrar as sensações que desfrutei, ali, mas também não lhes sinto a falta, são hoje uma experiência, sem orgulho. São hoje uma aprendizagem, que fazem parte de mim, e que estão vincadas no meu passado, e que são hoje parte de mim, do que sou.
E é tão místico, o facto de não se perceber que pessoas comuns como nós, não possam esconder estes segredos. É inimaginável, que alguém com o futuro no seu caminho, longo, possa tomar tais atitudes, tais deslizes psicológicos. Não quando se tem capacidades para dar muito mais, quando se tem capacidades para lutar, para dar a volta de uma outra forma, quando até se pode ser muito mais do que alguma vez alguém ambicionou ser.
Isto não é a marcação de um desgosto, de uma revolta, de um ódio, mas sim a delineação de que este parágrafo foi importante para me encontrar. E deve este, por agora, continuar como é, segredo de mim, deste retalho. É cedo para se descobrir que afinal não sou tão puro como se possa pensar. Que tenho recantos de mim onde a lixívia passou e não conseguiu penetrar, que afinal sou igual a tantos julgamentos que se fazem. Mas no fundo, tudo passou, e hoje sou a soma dessa passagem, com tantas outras.
Segredo obscuro! Esta vida está recheada deles, e eu sou apenas mais um que os possui. Era importante passar por aqui.
Segredo vertiginoso! É preciso gostar de aventuras, este foi o meu sentido de aventura. Colocar a vida em perigo.
Segredo!




"Não contes do meu


vestido


que tiro pela cabeça
nem que corro os


cortinados


para uma sombra mais espessa.




Deixa que feche


o anel


em redor do teu pescoço


com as minhas longas


pernas


e a sombra do meu poço.




Não contes do meu


novelo


nem da roca de fiar
nem o que faço


com eles


a fim de te ouvir gritar"
Maria Teresa Horta

terça-feira, janeiro 09, 2007

Esplanada do Chiado


Esplanada do chiado! Sentimento que aflora a pele, que me acaricia, me aperta e sorri. Aconteceu o despertar, a superioridade do sentido feroz de quem se tinha perdido algures, onde termina o arco-íris.
Poucas árvores, vegetação quase ausente. Uma escada exterior que me dá a sensação de elevação espiritual, para um infinito desconhecido. Guia-me através do invisível, para um alento surreal, e quem sabe até, inexistente... Sei que estavam, reais, um toque! Para onde? Descobrir incapaz fui....
As pessoas passam e trocam olhares, num sussurro inaudível, embora perceptível pelos pássaros, que nos divertem com voos fugazes. Outras tantas, chegam e ficam. Onde desfrutam de uma pausa, acompanhados. quer de si mesmos, quer de seres que se foram acrescentando à própria existência.
A educação chega à mesa, quando a empregada nos serve o chá de caramelo e baunilha. O doce aroma perfuma o ar, que até então permanecia lisboeta. Inunda as narinas, criando festas ao estômago que festeja tal doce néctar. Aqui começa, um momento, outro tanto, que era nada mais que uma saudade.
Conversas. Desabafos. Histórias. Duas vidas. A abertura é alargada, e um ano, resumido em três horas. Impossível? Sem poder, não há querer.
Regressam os carros, as passagens. Monstrengo amarelo de fronte a um toldo que para cobrir, já não servia. Pessoas. Música ao fundo. Sussurros.
Tão junto do holocausto sonoro, de uma cidade que causa impacto, e tão surdo este rebuliço tipicamente popular. Calma maresia que ao chegar, nos transforma e amarra.
E eis que a noite se aproxima. O relógio marca hora aceitável. Mas ainda há tempo para mais. Ainda há tanto por dizer e contar. Por sonhar e divagar. A Felicidade! Ambos aqui. Felicidade! E misturam-se cores no horizonte, onde o céu nos serve de tela de mistura de aguarelas, de cores imaginárias. E misturam-se conhecimentos, aqui neste passeio público, onde poucos ficam, onde poucos julgam perder um tempo. E misturam-se línguas...
Regresso. Sorriso estampado nos lábios. Olhos brilhantes. Paixão!
Tão curto e tão puro. Amizade aqui esbatida, tão ferozmente confundida com um outro tipo de amor. Amamos sim. O que somos, o que se assemelha que seremos. O futuro é incerto. E afinal, há coincidências? Nós sabemos tão bem que não... Sonhos.
De volta ao passado, neste exacto momento. Quem diria?
Mudanças. E esta esplanada tão igual à de sempre, mudando apenas este elenco que pára e segue, por razões tão diversas, e que podem até ser iguais às nossas. Porquê parar aqui? Sossego. Ou apenas o forte motivo da tal companhia que não somos nós próprios? Descontrai. Relaxa e repensa. Valerá a pena tal correria por essa estrada fora, e não desfrutar destes pequenos prazeres? Vai à aventura. Arrisca, não tens nada a perder. Se fôr um risco, vem até aqui. Esplanada da vida onde corpos se acumulam numa memória de ninguém!

terça-feira, janeiro 02, 2007

Hey!





" Anda cá. Tens dois minutos? Ou fazem-te falta? Sabes o que faz realmente falta? Mais loucura. Mais malucos. Não os " grandes malucos " mas os verdadeiros e as verdadeiras. Aqueles que perdem tempo para falar com os pombos; que vêem quadros onde os outros só vêem paredes; os aventureiros e as aventureiras que acreditam, ainda, haver qualquer coisa no fim do arco-íris. O verdadeiro poder é tu decidires o mundo à tua volta; questionar o estabelecido, as certezas e os costumes, para acreditar que tudo pode ser diferente. É preciso mais absurdo, mais ideias insensatas. Cinco bailarinas a jogar à bola de tutu cor de rosa. Passeios cobertos com relva e flores. Ou, muito simplesmente, trepar a uma árvore quando te apetece. Tu é que mandas. Se gostas de música pirosa, gostas e pronto. Queres cantar alto no meio da rua, deixa-te ir. Se preferes não dar muito nas vistas, anda nas calmas. É preciso rirmos e dançarmos e darmos abraços e beijinhos. O importante é levarmos tudo mais a brincar; até as coisas sérias. "

sábado, dezembro 23, 2006

Hospital


Vidas cruzadas, olhares trocados. Uma miscelânea de medos, ansiedades e sentimentos. Uma panóplia piedosa de morte e vida. Um lugar inacabado por lágrimas de alegria e tristeza.
Aqui tudo nasce! É uma partida para algo que nem sempre é seguro, mas que a todos diz respeito. Perfaz aqui, o início da jornada. A partida no jogo que é a vida. As cartas foram dadas e é tempo de se aprender a jogar.
Aqui, tudo morre! É o fim da jornada, onde tudo começou. Termina! Pouco ou nada há a dizer, apenas é visível no olhar que o jogo afinal tem de ser levado a sério. Sentido. Único. Pois quando o àrbitro apita o final do campeonato, recolhe o jogador ao local que outrora fora o lugar do pontapé de saída.
Aprender a jogar, é tarefa ambígua e dependente. É necessário bons treinadores, mas também um faro apurado por parte do jogador. Bem sei que por vezes, por mais que estes dois aspectos estejam patentes, o jogo pode ser controverso e decidir mudar o revaldo, caíndo o atleta em terreno falso, perigoso. Temos de ser àgeis, pois este jogo tem vida própria. É ele que nos comanda, portanto, há que estar preparado e nunca largar a bola dos pés.
Viagem eterna!
Males conjugam-se com vitórias. Colocam-se aqui à prova diversas componentes humanas, pois todos, estão no teste onde é necessário terminar a cadeira.
Aqui se encontram o que alguns durante tanto tempo lutaram por aprender.
Aqui estão exemplares humanos de quem sofre por um corpo a necessitar de uma revisão, ou até, de uma reparação.
Aqui estão tantos outros que necessitam manter o sangue frio para o cérebro fluir. São estes o sedativo, o soro, o antibiótico das outras personagens. O apoio, o ombro amigo. Os que têm de positivar todo o elenco! Mas são também quem sofre por dentro, quem prende as lágrimas para não alarmar a peça.
Todos estão aqui, numa ligação repentina e inesperada. O público está do outro lado, incapaz de assistir a esta peça privada ( arriscaria dizer que este público, nem sequer deseja ser parte integrante deste elenco ). Não é suposto ser uma obra pública. Demasiado penosa. Bastante pessoal.
E as personagens trocam olhares de compreensão, e até de algum reconforto. Não é necessário existir diálogo, o olhar vale mais do que isso. É um cinema mudo que transparece mais do que qualquer outro filme musical, tal não é o realismo dos olhos.
Por mais que se tente fugir, este é um lugar comum. Onde tudo começa, onde tudo acaba... Uma finta deste campeonato onde cada jogador é a sua equipa, onde se misturam necessidades. O objectivo é o mesmo, chegar sem faltas e o mais tardiamente ao lugar comum!

quarta-feira, dezembro 20, 2006

Raiva

Apoderou-se de mim, invadiu o meu espírito, comandou-me como um fantoche de teatro amador, mais profissional, que tantos licenciados. Escravizou a minha vida. Sentiu o que eu tinha e era, transformou-se em algo imaginário. Era uma raiva que se passeava num corpo que já não pertencia à sua alma, mas sim a este adjectivo que me cegou e não me deixou ver a luminosidade de um sonho por algo melhor.
A culpa? Ideias preconcebidas, mentes introvertidas, sociedade por se descobrir, por crescer e evoluir. Crenças, que não são passadas, ideais que não são as de antepassados. Verdades únicas, que se acompanham de tantas realidades mais verdadeiras e autênticas. Mentes fechadas, lenços que cobrem rostos, que já de si, nada querem ver. Criticas mordazes, dedos apontados, rejeições por algo que se desconhece!
E por tudo o que o povo acredita, instalou-se então a raiva, o medo, o sofrimento. Ainda a mente desconhecia que existia um mundo para lá dos muros da juventude, e já máquinas de bala destruíam uma pureza que se devia manter por mais tempo. As questões surgiam, a revolta emergia, e a vontade de terminar o que quer que se fosse era abrupta. E é aqui que tudo começa…
Tanta era a insistência na pessoa que era, tantos eram os pontapés que as bocas ao largo largavam, que acabou por crescer dentro de mim, sentimento feio, rebelde, tirano! E era tudo mascarado, tudo trabalhado, tudo ensaiado. Duas atitudes juntas num só corpo. Por fora surgia uma figura tranquila, fraca, e que ignorava todos os preconceitos de que era alvo diariamente. Por dentro, gritava o mar revoltoso, sangrava o coração, brotavam lágrimas de morte.
Mas esta atrocidade, só me inundava quando para lá da casa segura me afastava. Quando chegava à selva desflorestada. Pois era aí que os ataques surgiam, e que sentia vontade de lançar uma bomba mortífera. No final do dia, no porto seguro, o ser transformava-se, era o largar da negatividade, era o viver somente com a alegria de poder ser eu próprio, sem receios, sem medos.
Felizmente não fui levado por ela. Talvez tenha aprendido a ser forte, e tenha percebido de que nada faria, e que acabaria mais ferido do que já estava.
Mas foi tão doloroso, tão penoso, que não consigo evitar olhar para trás e chorar amargamente. Foi uma luta de todos os dias, minha e de quem quer que de mim gostasse. Normal ter de surgir de mim a maior força, mas era tudo tão difícil. Não tinha idade para aguentar tal fardo. Não tinha maturidade para tais preocupações. Não era suposto lamentar-me por ser o que era, quando todos os outros apenas se alegravam por serem parte integrante de uma vida.
A solidão forte, a escuridão envolvente. Crescimento tenebroso. Fingimento inacreditável. Raiva possuidora.
Monstros do passado com cara de gente, amargo entristecimento que me denegria o ser, e que me fazia revolver atrás o passo de cada vez que vencia.

Passado Modificar


Um mero olá, uma simples mensagem. Um visionamento perspicaz, uma aventura que se descortinava. Sem querer querendo, um desconhecido conhecimento aveludava-se de um coração abandonado que se julgava inexistente.
Será tudo verdade, ou uma mentira que apenas pretende mudar de vida e colocar uma máscara? Nada é certo, nada é seguro. Apenas existem humanidades que se igualam e que procuram o mesmo fim.
A busca era semelhante, mas o receio constante. Uma luta feroz, uma dualidade de desejos. Um campo de batalha armado, uma guerra por fazer, que de santa nada possuía.
E é hora de perguntarmos se os passados nos movem, ou se apenas nos prendem quando queremos avançar. Nessa altura fica então pendente uma felicidade imaginária que apenas queria ser real, e que em segredo chora escondida por entre a cega multidão!
Agora o relógio não pára, os dados estão lançados, o jogo tomou a sua partida. E somos dois viajantes no que se julga ser a vida. Estamos em teste, numa onda perigosa, numa curva retorcida, num carrossel que vai girando conforme a disponibilidade.
Mas é tão doloroso este sentir, que chego a perguntar se valerá a pena rebentar as amarras do teu coração, e querer uma felicidade tua, que é somente uma miragem minha. Sei que estás aí, que me queres, que sentes o que sinto. Estamos ambos no mesmo projecto idealista de uma pintura impressionista, mas sinto que a qualquer momento, pode o pintor mudar o rumo da criatividade, e alterar o quadro que se julgava de dois seres, para surgir uma Mona Lisa que apenas olha para quem para ela olhar.
Tenho a certeza que tudo isto irá ficar ancorado na minha existência, pois foste tu que me fizeste mudar uma maneira de ver e agir. És tu que me fazes acreditar diariamente nas histórias banais de amor. E verificar, que essa banalidade vem apenas de quem não sabe que existe um amor, lá fora, próximo de nós, à beira de ser agarrado.
E se me perguntarem se não é tudo demasiado repentino. Se não estou apenas a deixar-me levar por uma carência de sempre. Vou apenas responder, que até ao dia em que os nossos lábios se tocaram, eu desconhecia o que era desejar alguém sinceramente, o que era um simples beijo, o que era estar apaixonado. Sentir o coração disparar somente por as nossas mãos se terem sentido
Sim, amei, demasiado até! Mas foi tudo um erro. Uma amizade que pertence ao passado, que foi destruída e consumida por um amor singular, que só de mim fazia parte. E é esta tua chegada que me faz perceber o que eu afastava incessantemente. É possível alguém estar apaixonado por mim, e eu retribuir tal belo sentimento.
A paixão já atraiu muitos amantes para o meu regalo. Mas foram apenas momentos carnais passageiros, sem nexo, confusos. Foste tu que transformas-te o meu Mundo, a minha personagem. Não negues agora se te responsabilizarem por ter nascido uma característica que se julgava incapaz de surgir. Sou hoje metade do que fui, nada do que serei.
É este o último grito do meu coração, a última palpitação. Amanhã podes já não estar aqui, nesta aura. Mas ficarás marcado e vinculado nas minhas veias, que irão transparecer o teu rosto.

Incompreensão!

Um dia por breves inspirações,
Soltaram-se as palavras, fugazes.
Audácia! Vidas inacabadas,
Uma panóplia de emoções.

Segredos obscuros,
Luminosidade viril. Força voraz!
Caminhos trilhados, sem tudo,
Com nada.

Abrem-se as portas do passado,
Embrenhando-se na dose,
Pura, realista.
Acabou, morri!

Fénix de luz,
Despertei da mágoa,
Entrei no Mundo
Do sentir.

E vislumbrei, júbilo,
Sentimento,
Contemplação do invisual.
Casual casualidade.

E agora?
Terra prometida, lenda inacabada,
Poema por rescrever.
Vida por viver!

Passado Flutuante


Ferida aberta, que insiste em não sarar. Paixão descoberta, que reflecte a falta de amor próprio anterior. Desejo que pertence ao passado, mas que se mantém como uma chama que não se apaga. Pouco ou nada há a fazer, apenas retalhar todas as pegadas que ficaram para trás, e que as ondas do mar preferiram manter intactas.
Agora é tempo de fazer um retiro pessoal, perceber o porquê de tanta injustiça sentimental e prosseguir com a viagem desencantada. Foi fácil amar, mas tão difícil esquecer que se torna sufocante esta corda amarrada a uma alma invisível. Tanto brilho, tanto encanto, tanta boda por festejar. Tanto e tão pouco por dizer. Palavras de um olhar que ficaram por ler, cerimónias mortíferas em tua honra, para ressuscitares de cada vez que para mim dirigias uma palavra. E foi essa a morte do artista!
Insistência maligna, flecha mortífera, amizade incompleta. Um segredo desvendado, por ser incapaz de esconder o que sentia! O sufoco era demasiado profundo, o rosto estava demasiado iluminado por te ver. E eras tu presente de outro alguém. Carinho do dia-a-dia de uma amizade de sempre!
Não foi uma traição, nem tanto um apunhalamento pelas costas, mas sim uma partida clandestina do destino! Fui perfurado abruptamente, e sem perceber, já o meu sonho vislumbrava a sua melodia no meu palco.
Sei que serei incapaz de te retirar de onde conseguis-te entrar. Mas sou capaz de adormecer tudo o que senti, e vivi só. Mas não te sintas oprimido, se sentires o meu batimento cardíaco tão perto de ti, aquando da próxima vez que nos cruzarmos. Será apenas o reacender de um triste passado, que flutua cá dentro. Nem tão pouco te sintas lisonjeado, pois já nada me dizes. Apenas foste aquele que me abriu a porta para a busca que é de todos nós.
Sou agora diferente, maduro, um aprendiz mais sábio. Já nada em mim reconhecerias, a não ser este tal velho sentimento. Portanto, não pares para tentar reconhecer alguém que nunca conheceste. Acredita, faria diferença nesse teu mundo fingido, mascarado e que me desiludiu no dia em que blasfemaste o amor! Irias deparar-te com tamanho monumento, que terias de me ver em livros. Pois o teu olhar é incapaz de vislumbrar o que está acima do teu umbigo.
Podes tu também estar diferente, e não quero estar a ser hipócrita, ao julgar-te, quando tanto perdi da tua vida. Falo do que conheço hoje de mim, e que comparo com o que foste. E, isso, assusta-me!
Bem, mas se a verdade é para estar patente, aqui, neste desabafo, terei que ser realista e dizer que foste importante na minha vida. Que foste o meu primeiro amor. A minha primeira desilusão. Navegas-te o meu mar, e não foste até ao mais ínfimo recanto deste oceano, porque o teu coração assim não o permitiu. Sei que não foste o culpado. Que talvez me desses o universo, se assim o pudesses. Mostras-te amizade quando tudo se vislumbrou na tua mente, mas eras incapaz de estar por mim, de caminhar na vida ao meu lado. Não te culpo, não te censuro, nem tão pouco te responsabilizo pelas noites que chorei por ti. Apenas olho para trás com tristeza por ter amado o ser errado.
E darias pano para tanto desfile, que faria um livro com a minha história sobre um amor perdido, sobre uma aprendizagem, que no fundo acabaste por ser para mim. Serias a utopia do meu cosmos. Mas isso seria dar demasiada importância a algo que se tenta apaziguar.
Já retirei a lição que havia para aprender contigo. Portanto agora só me resta continuar, e evoluir. Ficas-te para trás, apenas amarrado a uma corda invisível que está presa à parte do meu coração que representa desilusões!

Se...!?

Se é necessário percorrer toda a nossa vivência, para definir alguma atitude, então, regressa e aprende!
Se é preciso seres tu a definir a luminosidade da tua vivência... segue em frente, e ilumina o teu caminho.
Se caminhas na direcção errada, continua. Segue sem medo, sem rodeios, apenas não desaprendas a andar,
Se andas, não pares. Dualidade insensata. Palavras graciosas. Quem disse que a piada não é necessária?
Se necessitas de fugir, não o faças por não conseguires ultrapassar a realidade. Fugir não resolve. Resolver... Satisfaz!
Se satisfazes uma necessidade retraída, acordarás com um novo brilho, com uma nova personagem. Um novo rumo, uma nova estória, mas que história.
Se... com história nada vai, tudo foi ficando, na história. Todos a temos, todos a aprendemos, nem todos se lembram.
Se te lembras, saberás o porquê de tudo, nada ficará por explicar.
Se és inquebrável talvez a vida não seja vida vivida, talvez esta não seja sofredora.
Se eu souber o que digo, faz sentido, talvez não voltasse a retalhar o meu pensar para me exprimir. Mas a escrita é néctar, e sem beber, sou pó, vazio.
Se... não lhes ligues. Apaga o se deste texto, e verás que tudo será futuro, seguro, com certezas, destemido. Se o fizeres sempre, não haverão ses... *

Mais um dia!

Um dia passa, tantos sentimentos, tanta pouca vontade de contínuar esta romaria de rotinas impostas pela sociedade que nos sobrecarga de imposições!
Acordei um destes dias, entre tantos outros, e apercebi-me do quanto me sinto só, da necessidade que tenho de me sentir amado e desejado. Felizmente tenho amigos e família que me adoram incondicionalmente, apesar de todos os meus defeitos e opções. Mas estes sentimentos não são suficientes para preencher o vazio que sinto, a falta de toque, de sedução.
Mas chego à conclusão, de que se dermos demasiada importância a tamanha falta, que afinal, é a falta de tantos, acabarei por me afundar no meu próprio Eu, e acabo por não saborear as coisas boas da vida, e não serei capaz de retribuir o amor que me dão.
Portanto, o único caminho a seguir, é aquele que traçamos diariamente. E nunca fugir à nossa própria essência, aquilo que realmente nos motiva, e que nos faz ser o ser.
Mais um dia, ou um dia a mais? Apenas vive um dia de cada vez...

Perdido...


Sem rumo, sem destino, apenas com a humanidade insana de quem pretende surpreender. Caminhos, ligações. Pedra de calçada sentida, maré vazia que chega ao final do dia cansada, deslocada, resentida por ser esquecida depois de usada.
Aqui estou, sem ter a noção do que quero, mas iluminada a alma, pretendente do que vive, sabe bem, sabe ser. E sei mais do que julgo, sei tudo o que quero, sei que quero saber mais. E o verbo ser é presente, futuro diário de quem sonha, amargo doce mel, que me encanta e baralha.
E a lucidez é transportada para o nível do inconsciente, e apenas o que ouvem são frases exactas de uma perdição que se prolonga e arrasta, empurrada pela maré da fraqueza!
A grande civilização já passou, e o que deixou, não foi o bastante para nos evoluir, e fazer encontrar o graal da evolução. Fazem então, o que as normas indicam, e são poucos os que arriscam seguir ao contrário do povo, de olhos fechados, de mente tapada, com lenços disfarçados.
Perdido! A reflexão da matéria, o ouro dourado. A menção que não chega para dizer não. E o longo caminho, perdido, aqui prefaz o que retrata a minha solidão. E tudo isto apenas para dizer... Perdido*

Decomposição

O ser que se refresca, com uma ansiedade de desejo e paixão. Uma necessidade que altera o verbo amar, uma força quente, que regressa e me dá luta.
Sinto-me de novo num corpo que não é o meu, mas reconheço esta alma que sempre foi minha. E sei que o que faço e o que quero, é belo, é puro, é sentimento.
Mas a verdade teima em planar no meu corpo, e sinto este ardor que palpita no peito, e me prende o movimento. Que fazer? Deixar seguir o que quero...
E apenas vislumbro um caos, um cosmo apenas meu, impenetrável. Sentado num quarto fechado, à espera que retirem a chave de entre tantas.
Fico aqui, num abandono descomposto. E esta vida? Sentido?
Faz com que tudo ganhe sentido. Faz-me acreditar em algo que apenas vejo os outros sentir. Que reconheço quando choro a ver mais um beijo na tela.
O que chamo decomposição, pode estar tão composto para ti... Desinteressante! Vem apenas ao lugar combinado, e faz-me caminhar.
E se ainda não chamei a atenção de quem queria, valerá a pena insistir no que não se quer? Dúvida. Coração. Eu! Apenas decomposição*

segunda-feira, dezembro 11, 2006

E será este o princípio?



E será este o princípio? Ou apenas um final incompleto? A solução precária de dissabores acumulados num ser preso ao verbo ser. Dúvidas propostas, segredos por revelar, desejos subentendidos, ligações imprevistas. E o verdadeiro sentido para tudo, ou até para o nada, fará um real sentido? É uma fadiga que se move, é uma preocupação que se instala, são derrotas com sabor de vitória!
Numa vida tudo se resumo, pois por mais que se acredite em vidas passadas, é desta que nos lembramos hoje, é com ela que iremos até o corpo se deplorar. E quando a memória se torna numa fiel inimiga, e nos passa ao lado na batalha, voltamos a degustar o amargo fel de viver.
Íeis-nos aqui hoje, numa relutância por uma leitura de escrita falsária. Mas conscientes de que a palavra nos transmite tudo aquilo que somos. Até para quem não as ouve ( e não é necessário existir uma deficiência corporal ), existem sentidos que nos fazem percebê-las.
Contudo, aqui estou, diário de hoje, memória de um passado que se tenta esquecer. História de vida, sentido para viver. Nem tudo se transmite em algo recontado, mas assim quem sabe, talvez se encontre uma identificação, somente num parágrafo, diário!
Não trarei dias seguidos, não seguirei um rumo certo. Optarei apenas por divagar por passagens desta vida, minha! Contar e encontrar aqui um desabafo perdido. Ao fim ao cabo, um registro posterior, uma análise reflexiva.